sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO PROFESSOR

Por Diego Bruno de Souza Pires

Em face da nova compreensão de mundo projetado nas últimas décadas, fez-se necessário, a toda evidência, pensar e repensar valores, conceitos e sujeitos ativos da ação educacional. Para tanto, viu-se premente uma alteração prospectiva a ser alcançada diariamente, e assim, ampliar e consolidar métodos pedagógicos de ensino mais racionais e menos provincianos.

Com isso, o profissional da educação toma para si a responsabilidade moral, juntamente com toda a sociedade – é lógico! – de construir novos e consolidar antigos valores para os jovens, em busca de uma sociedade mais justa e igual, para que assim, possa também ser solidária e fraterna[1].

Como evidenciado no art. 205 da Constituição Federal, A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Evidentemente que toda a sociedade se faz responsável moralmente pela formação do homem e do cidadão, principalmente, sem qualquer dúvida, o professor (ou educador): mola central da engrenagem educacional.

Data vênia, entendemos ser necessário ao “Novo” pedagogo e, inclusive ao professor da nova geração, fazer uso da inteligência pedagógica, agindo com a nova racionalmente projetada pela filosofia da argumentação, ou pela racionalidade discursiva, sustentadas por Habermas e Alexy, uma vez que moralmente responsáveis pela formação do indivíduo, para que este consiga alcançar a consciência cidadã[2].

Parece-nos, tendo por base a lei nº 9.394, mais conhecida como LDB, bem como a nova racionalidade advinda com a filosofia da argumentação ou da racionalidade discursiva, que o profissional da educação não deve mais usar de métodos desregrados de desproporcionalidade ou desarrazoabilidade, métodos injustos no aprendizado do jovem, por ser argumentados em traços fixos da “antiga pedagogia de ensino”, a pedagogia da palmatória, a pedagogia arcaica ou barroca, mas, sem sombra de dúvidas, dialogar com o jovem novos métodos de ensino.

Há algum tempo atrás nos víamos diante de uma ciência pedagógica de ensino bastante fechada. Somente cabiam aos professores, pedagogos, psicólogos e estudiosos do ensino construir os seus modelos de aprendizagem e de socialização, ou “domesticação” do homo sapiens. O aluno não estava autorizado a participar dessa construção. Isso fazia parte de uma consciência tirânica de poder pedagógico.

Os professores e alunos não poderiam se relacionar num mesmo patamar de poder. “Professor era professor e aluno era aluno”. Na nova compreensão da teoria discursiva, a construção dos métodos de ensino e da consciência cidadã do homem, o Professor e o aluno podem trocar de pólos, basta haver argumentação suficiente para a inversão dos lócus.

O professor não tem que sentar-se em local mais elevado que o aluno para representar sua posição de “supra-sumo”, o dono da razão, a sapiência em pessoa, o segundo Salomão. Com o perdão da expressão, isso é tolice! Um professor não precisa se apresentar como autoridade para o aluno, mas agir de forma que o aluno respeite-o pela sua capacidade de compreensão e diálogo.

O aluno por ser agente de dignidade também deverá ser respeitado em seus direitos. Evidentemente que há casos extremos em que a força impositiva deve imperar. Agora, fazer da força física, da coação moral e da imposição psicológica diariamente como forma de metodologia, é sair dos trilhos da boa pedagogia e se calçar nos troncos da barbaridade, da insensatez e da falta de consciência.

Quem nunca ouviu falar que o professor ao passo que ensina, também aprende em sala de aula? Atribuir ao Professor o “título” de “dono da verdade”, transforma a pedagogia do ensino em mais uma ciência tirânica e manipuladora de uma compreensão escrava de ensino (Senhor e Servo).

Conforme lembra a pedagoga Maria José Ferreira Ruiz, não há saber nem ignorância absoluta: há apenas uma relativização do saber ou da ignorância. Por isso, educadores e educadoras não podem se colocar na posição de ser superiores, que ensinam um grupo de ignorantes, mas sim na posição humilde daqueles que comunicam um saber relativo a outros que possuem outro saber relativo”[3].

Depois da apresentação do novo modelo de ensino desenvolvido por Paulo Freire, conseguiu-se enxergar a pedagogia do ensino como uma ciência aberta, capaz de dialogar suas bases e diretrizes, não somente com professores, mas também com os alunos (Influência da filosofia de Häberle).

Paulo Freire (1921-1997) entendia que o maior e mais desafiador objetivo educacional projetava-se na conscientização do aluno. Nessa perspectiva, o educador se apresenta como peça fundamental para desenvolver o ensino de libertação. Ou seja, os alunos devem ser instruídos ao ponto de obter a criticidade, espírito investigador, desbravador, a curiosidade.

Dessa forma - na filosofia freireana - o educador tem o dever de despertar a consciência dos oprimidos. O educador não deve se entusiasmar com a construção de alunos pacatos, tímidos, dóceis e fáceis de serem dominados, mas, impulsionar os estudantes a inquietude, ao incomodo.

Por conseguinte, o patamar da consciência da libertação foi apresentada aos profissionais do ensino fundamentando o dever dos educadores de terem uma responsabilidade moral muito maior, ajudando os desfavorecidos da sociedade a agir de tal forma, ao ponto de conseguir a libertação da opressão.

Por isso, entendemos que o maior desafio do profissional do ensino - na atualidade - gravita na construção do diálogo entre alunos e professores, a procura de uma pedagogia argumentativa-discursiva, em que todos estão no mesmo patamar de aprendizado.

O exército usa a força física para conseguir suas conquistas; a pedagogia usa da educação para conquistar conquistas...



[1] Para a Escola Nova, “a educação é considerada o único instrumento apropriado para a construção de uma sociedade laica e justa, gerenciada por um aparelho estatal que se inaugura a partir de um projeto político iluministicamente concebido e juridicamente implementado”.

[2] Porque tendemos a pensar assim? Para Haydt, “Toda teoria pedagógica tem seus fundamentos baseados num sistema filosófico. É a filosofia que, expressando uma concepção de homem e de mundo, dá sentido à Pedagogia, definindo seus objetivos e determinando os métodos da ação educativa. Nesse sentido, não existe educação neutra. Ao trabalhar na área de educação, é sempre necessário tomar partido, assumir posições. E toda escolha de uma concepção de educação é, fundamentalmente, o reflexo da escolha de uma filosofia de vida (Haydt, 1997, p. 23)”.

[3] “O papel social do professor: uma contribuição da filosofia da educação e do pensamento freireano à formação do professor”. TEXTO PUBLICADO NA REVISTA IBERO AMERICANA DE EDUCAÇÃO. Disponível em: http://www.rieoei.org/rie33a03.htm> acesso em: 01 de janeiro de 2012.